Sexta-Feira, 01 de novembro de 2013
Depois do concurso público, um dos assuntos mais badalados do momento é a festa de aniversário do presidente da Câmara Municipal de Chapadinha, Nonato Baleco, que será realizada nesta sexta-feira (01), na Praça do Povo. De acordo com o que foi amplamente anunciado na mídia local, especialmente na Rádio Mirante, a comemoração terá direito a uma grande banda de forró.
“Ih, lá vem o chato meter o bedelho onde não é chamado”, diz o leitor. Sinto muito, companheiro, mas nesse caso o assunto, embora aparentemente privado, tem interesse público - e é aí que eu entro. Como assim? A princípio, qualquer um pode festejar sua passagem de ano como bem entender e ninguém tem nada com isso. Noutras palavras: se o sujeito, no dia do seu aniversário, decide ir à igreja ou pular de para-quedas, ou se prefere viajar pra Bagdá ou se trancar sozinho num quarto, isso é problema dele. Ok.
Acontece que Balequinho não é apenas um cidadão comum como eu e você, caro leitor! Ele é um representante do povo. E ainda por cima ocupa a função de presidente do Poder Legislativo Municipal. De sorte que, por mais que se tente negar ou disfarçar, salta aos olhos o caráter político desse evento, que – repito! - não parece ser apenas a expressão individual de felicidade e contentamento. Se não, que outro motivo faria alguém dividir com estranhos um momento que normalmente se divide apenas com amigos e com a família?
E que outro motivo, senão a política, faria alguém extrapolar todos os limites do bom senso, realizando uma festa espalhafatosa em véspera do Dia de Finados (data em que historicamente a cidade para e todos se recolhem em respeito aos mortos), causando descontentamento até mesmo no meio religioso? A resposta só pode ser uma: a velha política (ou politicagem, como diria um pároco local). Isso fica mais evidente quando se sabe que Nonato Baleco pretende disputar as próximas eleições. Trata-se, portanto, de um ato político, feito com o intuito de promover a imagem do presidente da Câmara.
É bom lembrar que festas parecidas com a de hoje foram muito comuns na época de Magno Baclear e Danúbia Carneiro, sempre com a presença de grandes bandas de forró e farta distribuição de prêmios à população. A maioria desses eventos - todos sabem disso - era bancada com o dinheiro público. E não! Não estou aqui a levantar suspeitas sobre a forma como vai ser realizada a festa do presidente da Câmara. Até porque conheço Nonato Baleco e acredito sinceramente que ele jamais faria qualquer coisa que não estivesse dentro da lei. Não é isso que me interessa aqui.
O que me chama atenção nesse caso é o seguinte: para quem se apresenta como alternativa no cenário político local, atitudes dessa natureza não soam como a repetição de velhas práticas? Práticas essas que são – ou deveriam ser - abominadas inclusive pelo grupo político que apoia Baleco, a chamada terceira-via? Penso que sim. Também não posso deixar de citar o fato de que o evento de hoje vem sendo comentado, se não me engano, desde a semana passada pela Rádio Mirante de Chapadinha, que desfruta de um contrato de divulgação com a Câmara via empresa Sofia.
O tal contrato com a empresa Sofia já deu margem a vários questionamentos, tanto pela imprensa como por parte dos próprios colegas de parlamento, como o vereador Samuel. Pergunto: independente do aspecto legal do acordo com a Mirante/Sofia, não estaríamos aqui presenciando a utilização de um veículo indiretamente contratado pelo poder Legislativo para a promoção da imagem pessoal de seu presidente? É bom lembrar novamente que nas gestões de Magno e Danúbia a Mirante também divulgava ações da prefeitura. E que a emissora também era usada como veículo de propaganda pelos ex-gestores.
São apenas questionamentos de um observador comum. Mas se a resposta às perguntas acima forem "sim", resta saber o que pensa a população sobre isso. Resta saber também se politicamente a estratégia de Nonato Baleco dará certo. Ou seja, se repetir velhas fórmulas usadas por figurinhas carimbadas da nossa província vai render bons frutos. De um modo ou de outro, tudo indica que estamos vivendo algo mais ou menos parecido com o que Mário Vargas Lhosa sentenciou em A Civilização do Espetáculo: “O político de nossos dias, se quiser conservar a popularidade, será obrigado a dar atenção primordial ao gesto e à forma, que importam mais que valores, convicções e princípios”.
Ivandro de Souza Coêlho, professor e jornalista

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