Temer ficou espremido entre duas realidades: de um lado, as contas não fecham e, de outro, a base aliada está cada vez mais voraz.
Por Eliane Cantanhêde
O Estado de São Paulo
Sexta-Feira, 21 de julho de 2017
Aumentar taxas, impostos e tributos em geral é coisa para governos fortes politicamente, com apoio garantido da sociedade, dos setores produtivos e do Congresso Nacional. Convenhamos, não é este o caso do presidente Michel Temer, que convive com um índice de popularidade de apenas um dígito e enfrenta uma guerra insana contra a denúncia do procurador geral da República, Rodrigo Janot.
Portanto, a decisão de aumentar impostos justamente num momento político tão delicado exige muita coragem, além da certeza de que as contas públicas continuam num buraco sem fim, com a arrecadação claudicante e os gastos serelepes. Temer e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, devem se preparar para a rebordosa a partir de agora.
A reação deve vir de três frentes: da oposição, da própria base aliada ao Planalto e da sociedade _ do chamado “cidadão comum”, e talvez principalmente, do setor produtivo, que não apenas sofre bastante com a crise como tem dado sustentação desde a primeira hora ao governo Temer. Tudo isso a treze dias da votação da denúncia de Janot contra Temer no plenário da Câmara.
Além do peso negativo da expressão “aumento de impostos”, que dispensa apresentação mesmo para a camada da população com menor escolaridade, há um outro prato cheio para as críticas à medida: enquanto aumenta os impostos da maioria, o governo abre os cofres para agradar os deputados que vão decidir, em dois de agosto, o destino de Temer.
Temos, portanto, que Temer ficou espremido entre duas realidades: de um lado, as contas não fecham e, de outro, a base aliada está cada vez mais voraz. Por isso, resolveu tentar conciliar o pragmatismo na economia com o pragmatismo na política. Dará certo? As próximas semanas e meses dirão.
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